terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Carta Aberta ao Presidente dos Correios: "A Falência do Serviço Postal Brasileiro

Transcrevemos na integra a  "Carta Aberta" de autoria do associado AFNB, colecionador, filatelista e comerciante Sr. Júlio César Rodrigues de Castro, publicada em 24 de janeiro de 2018 no sítio Filatelia77.


A Falência do Serviço Postal Brasileiro


Ao Sr. Guilherme Campos Junior
Presidente da ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
Assunto: A Falência do Serviço Postal Brasileiro
Sr. Guilherme,

Desculpe a franqueza, mas após um ano e meio no cargo de presidente de uma das maiores empresas públicas deste país, o senhor não consegue mostrar competência para o cargo que ocupa, uma vez que a qualidade dos serviços prestados pela mesma rola ladeira abaixo num abismo sem fim. Talvez gerenciar uma rede de armarinhos de cama, mesa e banho seja bem mais simples do que uma empresa dessa envergadura – há décadas compro e recomendo as lojas de propriedade da sua família.

Eu compro e utilizo os serviços dos Correios. Já vendi para os Correios. Divulgo a atividade filatélica brasileira, principalmente lançamentos postais e eventos relacionados ao colecionismo dos selos postais. Nesses treze anos de atividade próxima aos Correios, nunca vi uma situação tão ruim como agora. Vamos aos fatos:
1) Correspondências do exterior demoram meses para ser entregues, quando são

Sr. Guilherme, no tempo do Brasil Colônia ou Império as correspondências vindas do exterior eram entregues com maior brevidade do que em pleno século 21. Levavam uma média de 25 dias entre a postagem e a entrega, numa época na qual contava-se somente com os transportes dos navios e lombos dos burros ou, eventualmente, trens. Hoje, ninguém sabe o que acontece com uma correspondência depois que chega em Curitiba, aquela unidade virou uma bagunça só. Tenho uma correspondência despachada em Portugal no dia 14/09/2017 e liberada pela Receita para entrega no dia 13/10/2017, código RP704018010PT. Só aí já é um absurdo, praticamente um mês entre o despacho e a liberação para entrega. Hoje consta que está na minha caixa postal para retirada desde o dia 22/01/2018. Vamos fazer as contas em dias úteis ou corridos para calcular tal absurdo? Em qualquer conta, o tempo para entrega foi uma aberração.
Tenho mais quatro remessas, também vindas de Portugal, despachadas entre os dias 24 e 27/10/2017 (códigos RP704032572PT, RP704032586PT, RP704032590PT e RP704032609PT), todas liberadas pela Receita para entrega em 23/11/2017. Três meses após o despacho e dois após a liberação pela Receita, ninguém nos Correios consegue informar onde estão.

Já deixei de comprar selos de quase todos os países e só insisto nas emissões de Portugal porque tenho trinta clientes assinantes para os quais forneço as novas emissões daquele país. Mas agora serei obrigado a interromper este serviço, pois é impraticável aguardar quatro meses ou mais após a compra para receber uma encomenda.
2) Prazo das entregas dos Sedex e Encomendas PAC
Sr. Guilherme, numa confissão da qualidade que vem se deteriorando nos serviços postais, a ECT nos últimos anos aumentou os prazos das entregas das encomendas Sedex ou PAC, assumindo que já não tem mais competência para entregar em prazos satisfatórios.

Alguém na empresa já informou ao senhor o que significa a sigla PAC? Acredito que não: Prático, Acessível, Confiável. Vamos rir ou chorar dessa sigla, quando a empresa determina prazos de entregas que chegam a ultrapassar um mês corrido conforme o local? E que piorou ainda mais neste final de ano, com a ampliação do prazo em dois dias úteis para a temporada novembro a janeiro. Cheguei a enviar sedex para a minha própria cidade, Jundiaí/SP, para o qual os Correios informavam até quatro dias úteis para entrega. E com logística absurda: sedex saindo de Jundiaí, indo passear em Indaiatuba/SP para depois retornar à cidade e ser entregue.

Já sobre o índice de sedex extraviados, um comentário à parte: em quinze anos de atividade só tinha enfrentado esse problema uma única vez. No final de novembro e início de dezembro, foram dois, ambos vindos da ACVD (Central de Vendas à Distância, Rio de Janeiro), com muito aborrecimento para conseguir ressarcimento e envio de nova remessa.
3) Cartas registradas tratadas como cartas simples
O registro de uma carta é um serviço que pagamos aos Correios e que nem sempre é prestado. Explico: quando envio uma carta registrada, os Correios têm o compromisso de identificar quem recebe no destino, mas tem ocorrido com frequência esse tipo de remessa ser colocado em caixas de correspondências ou simplesmente jogadas ao relento, sem o carteiro se dar ao trabalho de identificar quem recebeu. No decorrer de 2017 recebi várias cartas registradas dessa maneira, colocadas na minha caixa de correspondência.

E recentemente tive a reclamação de um cliente, para o qual enviei carta registrada, que deveria ser entregue em mãos do destinatário com identificação, mas que foi jogada no jardim da casa, molhando com a chuva. Desafio que o senhor consiga a identificação de quem recebeu a carta registrada JT305713222BR. Não conseguirá, pois não identificaram quem recebeu.
4) Correios não entregam correspondências
Os Correios não estão cumprindo o serviço mais básico de todos da empresa, a entrega das correspondências comuns (cartas simples, extratos bancários ou de cartão de crédito, contas de serviços públicos). Recordo-me dos antigos e bons tempos que o carteiro entregava as correspondências diariamente. Passou para duas vezes por semana. Depois semanalmente, quinzenalmente e agora nem está passando mais, ou melhor, há pelo menos um mês não chegam correspondências na minha residência.

As contas podemos nos virar pela internet, mas tem casos que atrapalham a vida. Um exemplo: há um mês solicitei a substituição de um cartão de crédito que estava com defeito no chip. As operadoras enviam o novo cartão por sedex e nova senha por correspondência simples. O cartão chegou a mais de vinte dias e a senha, postada na mesma data, ainda não. Pela demora na entrega, cancelaram e emitiram uma nova, reenviada esta semana. Será que chegará? Onde estão os carteiros da ECT, grande maioria dos funcionários da empresa?
5) Descaso dos Correios para demandas registradas no “Fale Com os Correios”
Sr. Guilherme, a experiência me mostrou que as reclamações registradas no “Fale com os Correios” não tem serventia alguma. As respostas que recebemos são evasivas, esquivas, desculpas ou pedidos de mais prazos para soluções.

Um exemplo concreto: no dia 06/11/2017 fiz uma compra de selos personalizados na AC Jundiaí e cobraram por eles um valor a maior. Percebendo o erro tardiamente, registrei reclamação no dia 21/11/2017, até o presente momento sem solução. Paguei R$ 220,00 a mais pelos selos e ainda não fui ressarcido desse valor.

Registros de reclamações de cartas registradas ou encomendas (sedex ou pac) não entregues no prazo, não geram atitude alguma para localizar ou agilizar as entregas. Apenas respondem depois das entregas.
6) Falta de funcionários nas Agências
Há tempos vivenciamos uma situação que está piorando dia a dia: a falta de funcionários para atendimento nas agências dos Correios. Muitos estão aposentando ou saindo em planos de demissão voluntária sem reposição. Como exemplo a AC Jundiaí/SP, onde despacho encomendas três vezes por semana. Já teve oito a dez atendentes em guichês, hoje não passam de quatro ou cinco. Na principal agência de uma cidade com pouco mais de 400 mil habitantes.

Filas intermináveis, funcionários sobrecarregados e cansados com tanta demanda, clientes impacientes com a demora no atendimento. Até que ponto vocês vão apertar o cinto?

Trabalhei treze anos em empresa pública, a Caixa Econômica Federal. O mesmo pensamento que tínhamos nas unidades de atendimento da Caixa transporto para os Correios: quem está nos gabinetes da ilha da fantasia chamada Brasília não tem noção da realidade da ponta, de quem está cara a cara com o cliente.
7) Fechamento das Agências Filatélicas
A Filatelia é um segmento que, quando bem trabalhado, pode gerar importantes receitas para uma administração postal. Tanto que, embora quase não mais usados em correspondências, nunca se emitiu tantos selos mundo afora como agora. Vender selos para colecionadores é vender um serviço que não será prestado, a postagem de uma correspondência. É vender figurinha para colecionador a preço caro. Mesmo assim, quando vocês chegaram à conclusão que as agências filatélicas eram deficitárias, não procuraram rever procedimentos e optaram pelo caminho mais fácil: fechar essas agências.

São muitas as reclamações que recebo de filatelistas que não conseguem mais adquirir os selos postais nas cidades onde tinham agências filatélicas. A promessa, não sei se verdadeira, que teriam guichês (melhor seriam balcões) filatélicos nas agências centrais dessas cidades não foi cumprida.

Os atendentes das agências postais não conhecem o produto Filatelia. Não sabem vender selos. Não gostam quando um cliente exige que suas correspondências sejam seladas. Não os culpo, é trabalho especializado para quem gosta desse segmento, ou para quem é preparado em Filatelia. Mas aí eu pergunto: os Correios ensinam Filatelia para os seus atendentes?
Sr. Guilherme, no meu negócio os focos principais da ECT são o segmento Filatelia e o produto Selo Personalizado. Afirmo, sem falsa modéstia, que sou um dos maiores compradores de selos postais e o maior de selos personalizados na sua empresa. Não entrarei em detalhes sobre ambos, esses assuntos trato com seus ótimos funcionários ligados a esta área, que sempre me concederam atenção e tratamento especial.

Mas para vender Filatelia preciso também que os outros setores da ECT funcionem. E estão funcionando muito mal…
Atenciosamente,
Julio César Rodrigues de Castro

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