quinta-feira, 8 de junho de 2017

Centenário do Samba - Brasil

SOBRE O BLOCO
 A arte do Bloco foi concebida sob a percepção artística da segunda década do século XX. Entre os movimentos artísticos que surgem e influenciam nossa cultura, estava o Art Nouveau, que, embora passando na Europa, ainda resistia em terras brasileiras. Esse estilo tinha forte presença gráfica em peças de publicidade e outros impressos, incluindo os “selos” dos discos de vinil da época. Elementos do Art Nouveau emolduram o bloco da Emissão, que traz na ilustração do selo postal o momento de reunião da Roda de Samba, onde os sambas eram criados e tocados, com músicos e as baianas, estas sempre presentes, sobre o que seria um disco de vinil, e a mesa o “selo”, fazendo uma alusão a gravação do primeiro samba em 1917. O ambiente remete a tradicional Praça Onze da cidade do Rio de Janeiro à época, com seus morros ocupados e de onde toda cor e música eram trazidas por seus moradores na criação desse gênero musical. Foi utilizada técnica de ilustração vetorial.
LANÇAMENTO 23 DE JUNHO DE 2017
Designer: Daniel Effi - Dimensões do selo: 38 x 38 mm
Cem Anos do Samba 
Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil 

          Símbolo da nossa nacionalidade, reconhecido internacionalmente, expressão cultural e social originária das populações afrodescendentes, incorporada ao cotidiano de todos os brasileiros, de Norte a Sul do país, o Samba recebe nessa emissão dos Correios o reconhecimento do seu poder integrador, ressaltando os valores e tradições das comunidades de sambistas que construíram o seu legado e movem a sua história rumo ao futuro. 


               A gravação do samba “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, em 1916, é um marco sinalizador do que viria a acontecer com essa arte. Nascida nos terreiros, se espalhou pelas cidades. Arte que é canto, ritmo, dança, mas principalmente um modo de vida, que compreende toda uma série de tradições ligadas a sentimentos de pertencimento e identidade comunitárias. Samba é reunião, é festa, é celebração. Como tal, quando há samba, há comidas, bebidas, vestimentas, instrumentos musicais, interseções religiosas, que compõem o seu cenário, o seu lar, seja uma quadra de uma agremiação carnavalesca, uma roda de samba num bar ou uma festa na casa de amigos. Quando falamos em escolas de samba, vemos as cores tradicionais, as bandeiras (os pavilhões protegidos pelo casal de mestre- -sala e porta-bandeira), os símbolos (como a águia da Portela e a coroa do Império Serrano), os padroeiros, os toques típicos de cada bateria, inspirados, quando ainda preservados, nos de cultos religiosos de matriz africana, toda uma tradição que se revivifica a cada nova reunião dos sambistas, a cada nova criação de um samba de terreiro, a cada novo desfile no carnaval. Mas o samba é muito mais. Não é só carnaval, com alguns pensam. Ele é uma expressão vivida no cotidiano, se dá o ano todo, no dia a dia dos brasileiros.

              No começo do século XX, o samba foi perseguido, assim como outras expressões populares. Foi tratado com preconceito e como caso de polícia. A resistência das comunidades e o trabalho incessante de lideranças como os sambistas Paulo da Portela e Cartola, para citar dois entre muitos outros, mudou esse quadro. As classes mé- dias foram atraídas pela arte e beleza do samba. A indústria fonográfica e o rádio logo viram o seu potencial aglutinador, a sua força criativa e a sua intensidade vibrante, que encantavam o país. Daí a ser reconhecido como símbolo de identidade nacional foi um passo. Um passo difícil, dado com muita luta, uma conquista. Nos morros e nas ruas, o batuque do samba se tornou o Brasil. Das senzalas onde sofreram os escravos, vieram a música e a dança que mudaram e ainda mudam o país. Então, além de manifestação cultural, é expressão de uma luta libertadora, pela igualdade, pela cidadania, pela integração. 

            Em 2007, o samba – nas variações partido-alto, samba de terreiro e samba-enredo – recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil. Esse reconhecimento ajudou a abrir novos espaços e a valorizar comunidades de sambistas, preservando e registrando os fundamentos de sua arte, alimentando a sua evolução constante no diálogo com as novas gerações, sustentando os fluxos de transmissão de conhecimentos através da atuação das Velhas Guardas das escolas de samba. Raiz e árvore que só crescem. Mas ainda há muito por conquistar.

            Foi da adversidade que se ergueu o samba brasileiro – sua poesia, sua vibração, seu molejo. 

        Vamos celebrar o legado dos nossos antepassados africanos e dos sambistas históricos, além de exaltar a força criadora das atuais gerações, que não deixam e não deixarão o samba morrer, nunca.

   Aloy Jupiara 
Conselheiro e Pesquisador do Museu do Samba

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